Desorganizadamente organizado

Em Abril águas mil. Este foi o pensamento matinal que me ocorreu quando olhei pela janela às primeiras horas da manhã. Chovia. Lá em baixo, apesar de ser uma rua pouco movimentada, já havia pessoas a correr de uma lado para o outro. Só se viam guarda-chuvas andantes. Mais à frente, uma grande avenida, o princípio do caos: o trânsito.

Não terá sido ao calhas que hoje li no Observador que ‘Bucareste é a cidade da União Europeia com pior trânsito‘. E que coisa pior para se juntar a um tráfego infernal do que chuva? Muita chuva e poças de água e salpicos e mais salpicos…

O trânsito caótico da capital romena é algo que salta à vista a qualquer visitante. É certo que ainda não chega aos calcanhares de alguns países que já visitei, mas não fica muito longe!

Vamos aos factos: o temperamento tresloucado de alguns muitos condutores costumava deixar-me fora de mim quando cá cheguei. É sinais de trânsito que não se respeitam, passadeiras nem vê-las, faixas reservadas é um luxo que ainda não cá chegou. São eléctricos no meio do trânsito e o trânsito nos carris dos eléctricos. São carros em contra-mão, cruzamentos ‘em palmeira’ (um conceito que só visto é que se acredita!), uma faixa para vários carros em paralelo. As manhãs e os finais de dia são horas de ponta que tiram do sério o mais santo dos condutores.

E, depois, há uma classe à parte. Estão por todo o lado, são baratos e os seus carros são dos mais coloridos na cidade: os táxis. Estes carrinhos amarelos, muitos deles orgulhosos Dacias Logan do início deste milénio, percorrem a cidade de lés-a-lés, com preços sempre imbatíveis, mas com um estilo de condução diabólico! Viajar neles é sempre uma viagem cultural interessante, especialmente quando apanhamos pela frente algum condutor menos desenvencilhado nas artes da condução!

Voltando à estrada, este é um assunto a necessitar de atenção urgente. Falando apenas da capital, a cidade não dispõe de nenhuma auto-estrada que a sirva correctamente. A ‘circunvalação’ cá do burgo é uma estrada normal. O interior da cidade é assaltado todos os dias, a qualquer hora do dia, por uma onda gigante de quatro rodas. Para a realidade do país o parque automóvel de Bucareste é surpreendentemente bom. Os carros são na sua generalidade recentes e encontram-se em bom estado de conservação. O pior é mesmo o número elevado de automóveis. A cidade não dispõe de uma rede rodoviária desenvolvida, nem de parques de estacionamento em grandes quantidades. Junta-se a isto o pulsar da massa humana (dizem que mais do que quatro milhões de habitantes) e temos a tempestade perfeita! O que Portugal tem de excesso em auto-estradas, a Roménia tem em déficit.

Mas, se ao inicio fazia confusão, agora já faz parte do meu quotidiano bucarestiano. E o mais surpreendente de tudo é que, em quase sete meses de convivência permanente com esta selvajaria automobilística, nunca vi um acidente de maior. As buzinadelas, os gestos e os dizeres menos simpáticos de uns condutores para os outros passaram a ser o ‘pão nosso de cada dia’. Atravessar uma passadeira tornou-se um verdadeiro acto de ginástica – olhar para a esquerda e direita várias vezes, atravessar a correr, não vá algum Dacia aparecer do nada – e, no fim, chegar ao outro lado da estrada e pensar: ‘ufff, já está!’. É cansativo, tira-nos do sério, mas é uma das vicissitudes de viver na cidade com o pior trânsito da União Europeia. Há vidas piores!

3 opiniões sobre “Desorganizadamente organizado

  1. É, o tráfego está ao nível de…Bagdad. É extremamente caótico, não só causado pelos piores condutores europeus(em formação e civismo) mas pela grosseira sinalização e design rodoviários.
    Não se vê acidentes muito graves em BUC mas fora dela são de hora a hora, os condutores são autênticos kamikazes.

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